Rio de Janeiro, 31 de outubro de 2024 – Em um julgamento aguardado por mais de seis anos, o Conselho de Sentença do 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro condenou, nesta quinta-feira, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes. Os réus, que confessaram o crime, foram sentenciados a penas de 78 anos e 9 meses para Lessa, e 59 anos e 8 meses para Queiroz, concluindo o caso que mobilizou o país desde 2018.
O tribunal foi tomado por emoção e aplausos das famílias e amigos de Marielle e Anderson, que comemoraram a condenação dos responsáveis. Luyara Franco, filha da vereadora, declarou com pesar que “Justiça seria se a minha mãe estivesse aqui”.
A juíza responsável pela sentença expressou o impacto do caso em suas palavras: “A Justiça por vezes é lenta, cega, torta, mas chega até para os acusados que acham que jamais serão alcançados”. E prosseguiu dizendo que “talvez justiça fosse Marielle e Anderson presentes”, enfatizando o vazio que o assassinato brutal trouxe para os familiares.
Além das penas de prisão, Lessa e Queiroz foram condenados a pagar pensão para Arthur, filho de Anderson Gomes, até que ele complete 24 anos. A juíza também determinou que ambos os réus devem compensar financeiramente cada um dos familiares das vítimas, sem direito a recorrer da sentença em liberdade.
Detalhes do julgamento
O julgamento teve duração de dois dias. Na quinta-feira, o Ministério Público, junto com os advogados de acusação e defesa, apresentaram suas teses ao júri. O promotor de Justiça Fábio Vieira classificou como “farsa” os depoimentos de Lessa e Queiroz, alegando que os réus não demonstraram arrependimento, mas apenas tristeza por terem sido capturados. “Isso é uma característica do sociopata”, afirmou Vieira, apontando a falta de empatia dos acusados.
O advogado de Lessa, Saulo Carvalho, defendeu que a delação de seu cliente, na qual ele mencionou Chiquinho e Domingos Brazão como possíveis mentores do crime, foi crucial para o caso, argumentando que “se não fosse a colaboração de Ronnie Lessa, nunca teriam chegado até eles”.
Por outro lado, a defesa de Élcio de Queiroz, representada por Ana Paula Cordeiro, buscou uma redução da pena ao afirmar que o réu confesso desconhecia a real extensão do crime e não tinha motivação direta para o assassinato de Anderson. Segundo Cordeiro, Queiroz acreditava que Lessa, conhecido como “exímio atirador”, teria a intenção de executar apenas Marielle.
Repercussão e declarações dos familiares
Marinete Silva, mãe de Marielle Franco, expressou alívio ao fim da longa jornada por justiça. “A sociedade esperava por isso. São mais de seis anos lutando e nunca paramos de acreditar”, disse Marinete, cuja perseverança foi reconhecida durante o julgamento.
Ao longo dos anos, o caso de Marielle Franco e Anderson Gomes trouxe à tona questões profundas sobre violência política e direitos humanos no Brasil. A condenação de Lessa e Queiroz representa um marco na busca por justiça para os familiares e a sociedade, que desde então mobilizam-se em memória de Marielle, uma defensora incansável dos direitos das minorias e da população periférica.
Reflexão final sobre justiça e impunidade
Na leitura da sentença, a juíza fez questão de lembrar que o julgamento não termina apenas para os réus presentes. “A sentença se dirige aos acusados aqui presentes e aos vários ‘Ronnies’ e ‘Élcios’ que existem na cidade do Rio livres por aí. A Justiça chegou para eles”, declarou.
Assim, o desfecho do julgamento de Marielle e Anderson reforça a luta contra a impunidade e deixa um recado para aqueles que ainda acreditam estar acima da lei. É um passo que lembra a sociedade sobre a importância da resistência e do compromisso com a memória daqueles que tombaram em busca de uma sociedade mais justa e igualitária.
Com informações de O Globo.