Em uma audiência histórica e marcada por tensão, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento nesta terça-feira (9) à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação penal que o acusa de liderar uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Atualmente inelegível até 2030, Bolsonaro negou veementemente as acusações formuladas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), incluindo a elaboração da chamada “minuta de golpe” e a articulação de um plano que envolveria ações violentas contra autoridades da República, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
Desde o início da oitiva, o ex-presidente adotou uma postura combativa e imprimiu ao depoimento um tom retórico que por vezes se aproximou de um discurso de campanha. Bolsonaro disse que todas as suas ações, enquanto chefe do Executivo, ocorreram “dentro dos limites da Constituição” e acusou o processo de perseguição política. “Sempre respeitei a Constituição. Jamais cogitei qualquer movimento fora das quatro linhas”, declarou.
Momento de descontração: “Convite para 2026”
O momento mais inusitado da sessão ocorreu quando Bolsonaro, interrompendo o tom grave da audiência, pediu permissão ao ministro Alexandre de Moraes para fazer uma “brincadeira”. Em seguida, lançou o convite:
“Eu gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 2026.”
Com semblante sério, o ministro Moraes limitou-se a responder:
“Eu declino.”
A resposta lacônica arrancou sorrisos contidos no plenário, incluindo do próprio Bolsonaro. O episódio rapidamente repercutiu nas redes sociais e nos bastidores políticos, sendo visto por alguns como uma tentativa do ex-presidente de demonstrar bom humor e controle da narrativa, mesmo diante de uma acusação tão grave.
Acusações e retratações
Além da minuta de decreto que previa a intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a PGR aponta que Bolsonaro estimulou atos antidemocráticos, usou da estrutura da Presidência para difundir desinformação sobre o sistema eleitoral e atuou para desacreditar os resultados do pleito de 2022. Durante a audiência, ele reiterou sua defesa do voto impresso, embora Moraes tenha deixado claro que esse tema não estava sendo analisado naquele processo.
Bolsonaro também se retratou de acusações feitas anteriormente sem provas, como a de que Alexandre de Moraes teria recebido propina em dólares para interferir nas eleições. “Se falei, peço desculpas. Foi no calor dos acontecimentos”, disse, tentando suavizar o histórico de ataques ao magistrado.
Clima político e próximos passos
O depoimento ocorre em um momento delicado para a direita bolsonarista, que busca reorganização visando as eleições municipais de 2024 e, especialmente, a disputa presidencial de 2026. Embora juridicamente impedido de concorrer, Bolsonaro segue como principal liderança da oposição e influencia diretamente a movimentação de aliados em todo o país.
O processo criminal no STF segue agora com a oitiva de testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa. A expectativa é que a Primeira Turma do Supremo delibere sobre o caso até o final de 2025. A decisão, seja qual for, terá repercussões diretas no cenário político nacional.