A decisão do governo federal de avançar com uma resolução que elimina a obrigatoriedade de aulas em autoescolas para a obtenção da CNH, além de ter caráter prático e econômico, também carrega peso político em um ano que antecede as eleições municipais de 2026.
A autorização do presidente Lula para que o ministro dos Transportes, Renan Filho, desengavetasse a proposta até dezembro sinaliza uma estratégia de aproximação com a população de renda média e baixa, que enfrenta altos custos no processo de habilitação. Hoje, o valor total para a emissão da CNH pode ultrapassar R$ 3 mil em diversas regiões do país, o que torna a medida uma bandeira de impacto popular imediato.
Por não exigir tramitação no Congresso Nacional, a mudança é considerada de fácil execução e pode ser anunciada como resposta direta a uma demanda histórica de motoristas em formação. O governo aposta no caráter simbólico da medida: reduzir burocracia e custos, em contraste com a percepção de que as autoescolas mantêm um monopólio sobre o processo.
Ao mesmo tempo, a flexibilização deve gerar atritos com o setor das autoescolas, que deve perder espaço e receitas com a abertura para instrutores autônomos e ensino a distância. Essa resistência pode repercutir em disputas judiciais ou pressões políticas regionais, especialmente em estados onde o setor é forte economicamente.
O calendário também não é irrelevante. Anunciar uma resolução de alto apelo social em ano pré-eleitoral pode fortalecer o discurso do governo sobre redução de custos e ampliação de direitos, ao mesmo tempo em que garante vitrine para Renan Filho, ministro que desponta como nome de projeção dentro da base governista.
Na prática, a medida insere-se no tabuleiro político como mais um gesto de aproximação do governo com a população, num momento em que a popularidade será um ativo essencial para alianças e palanques nas disputas que se aproximam.