72% da população brasileira tem algum distúrbio do sono, diz especialista

Professora e psiquiatra Raquel Mendes, da Afya Educação Médica, lembra que o combate aos estigmas associados aos transtornos mentais e a promoção da inclusão social das pessoas que vivem com essas condições são alguns dos propósitos da ciência

O Dia Mundial do Cérebro, que foi celebrado em 22 de julho, serve como um lembrete da importância de cuidarmos desse órgão tão complexo e fundamental para nossa existência. Mais do que o cerne de pensamentos, emoções e memórias, o cérebro é a base da nossa saúde mental, influenciando diretamente nosso comportamento, humor e bem-estar geral. É nesse contexto que a Psiquiatria assume um papel crucial na promoção da saúde mental. Essa especialidade médica se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos mentais, buscando compreender as complexas relações entre biologia, psicologia e fatores sociais que influenciam o funcionamento do cérebro.

De acordo com a médica psiquiatra e professora da Afya Educação Médica, Raquel Mendes, conhecer sobre as funcionalidades do órgão é necessário para a saúde do indivíduo, de maneira geral. “Do ponto de vista da Psiquiatria, é importantíssimo entender os mecanismos do cérebro. Hoje, a gente sabe que as doenças psiquiátricas ocorrem porque existem alterações na condução dos neurônios, muitas vezes na estrutura do cérebro, e que tudo depende de cada condição, de cada indivíduo”, explica.

Nos últimos anos, a neurociência tem desempenhado um papel cada vez mais importante no avanço da psiquiatria. Com diferentes ferramentas, os cientistas estão desvendando os mecanismos neurais que estão por trás de muitos transtornos mentais, abrindo caminho para tratamentos mais eficazes. Os estudos também têm mostrado quais transtornos ou doenças são mais recorrentes na atualidade. “Quanto às doenças do sistema nervoso mais frequentes, a gente pode dizer que, na psiquiatria, são as que têm relação com o comportamento. Temos uma gama de doenças que são altamente prevalentes, como os transtornos do sono, que acometem quase 72% da população. O Brasil, ainda, é o país mais ansioso do mundo, com mais de 9% da população com algum transtorno de ansiedade”, diz a psiquiatra.

A médica e professora explica ainda que os quadros de depressão e os diagnósticos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) também são recorrentes. “Tudo depende da faixa etária, do grupo acometido, do gênero. Todas as doenças são importantes e elas precisam ser observadas, até porque muitas vezes elas aparecem em conjunto”, acrescenta.

A medicina psiquiátrica também identificou que fatores ambientais como estresse e o uso excessivo de internet, principalmente em crianças e adolescentes, são elementos desencadeadores de doenças mentais. “Um fator de risco importante para inúmeras doenças psiquiátricas é o abuso sexual na infância, por exemplo. Não só abuso sexual, mas abuso psíquico, abuso moral na infância. A própria violência urbana, o uso de álcool e outras drogas também favorecem o aparecimento de inúmeros outros transtornos”, explica a médica.

Para a professora, o combate aos estigmas associados aos transtornos mentais e a promoção da inclusão social das pessoas que vivem com essas condições são alguns dos propósitos da ciência. “A negação da doença psiquiátrica é uma grande preocupação, pois atrasa muito o tratamento, tanto do ponto de vista psicoterápico quanto do ponto de vista medicamentoso. Ainda há muito preconceito, mas isso melhorou por vários fatores. Um deles é que nas últimas décadas os medicamentos psiquiátricos têm tido um perfil de efeito colateral muito mais favorável do que os medicamentos antigamente utilizados. Também, o olhar diferente que o próprio governo e os psiquiatras têm em relação à doença mental, com o foco não no tratamento hospitalar, mas na reinserção à sociedade, acrescenta Raquel.

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