Hugo Motta na linha de frente: a fúria bolsonarista contra o bom senso

O presidente da Câmara dos Deputados em exercício, Hugo Motta (Republicanos-PB), virou o mais novo alvo da artilharia bolsonarista. E a motivação tem nome e data: a resistência ao avanço da PEC da Anistia, que busca perdoar os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. A proposta, que já enfrenta barreiras técnicas e morais, agora naufraga politicamente diante de um erro estratégico elementar: atacar quem tem o poder de decidir a pauta.

Nos últimos dias, Motta foi atacado por figuras de proa do bolsonarismo. Primeiro, Eduardo Bolsonaro, em sua zona de conforto nos Estados Unidos, acusou o deputado paraibano de ser um “esquerdista do PSOL” e de estar se dobrando às vontades do ministro Alexandre de Moraes. Depois, foi a vez do pastor Silas Malafaia, durante o ato na Avenida Paulista, afirmar que o parlamentar “envergonha o povo da Paraíba”.

Curioso é que esse mesmo bolsonarismo, até pouco tempo, aplaudia Hugo Motta após declarações sensatas sobre os atos de 8 de janeiro em entrevista à Rádio Arapuan. O comportamento oscilante — ora exaltando, ora atacando — escancara o retrato da conveniência política que guia o discurso do grupo: primeiro eu, segundo eu, terceiro eu. O lema “Brasil acima de todos” dá lugar a “meus interesses acima de tudo”.

Aliados de Hugo Motta reagiram com firmeza aos ataques, classificando-os como um “tiro no pé”. A avaliação nos bastidores é de que a pressão pública capitaneada por Malafaia e Eduardo Bolsonaro não só não surtiu efeito, como pode ter enterrado de vez as chances de avanço da anistia no Congresso. Isso porque a proposta, além de enfrentar resistência dentro da sociedade e do Judiciário, também divide a própria base do Centrão — grupo onde Motta tem forte influência e que é peça-chave em qualquer articulação legislativa.

Mais: para muitos parlamentares, a anistia, como está sendo proposta, beira o absurdo. Seria um salvo-conduto até para o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, que ainda responde a investigações no STF. Tentar empurrar goela abaixo uma pauta com esse grau de polêmica, usando ataques como moeda de pressão, foi interpretado como uma afronta a quem está disposto a discutir com responsabilidade temas espinhosos da agenda nacional.

A tensão aumentou com o anúncio do líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, de que irá divulgar a lista dos deputados que assinaram o requerimento de urgência da PEC. A tentativa de intimidar os parlamentares gerou desconforto generalizado e fechou ainda mais portas para o bolsonarismo dentro do Congresso.

No centro da tempestade, Hugo Motta mantém a serenidade. Em vez de alimentar o espetáculo, segue construindo pontes e protegendo a institucionalidade do parlamento. Para seus aliados, ele se recusa a transformar a Câmara em palanque de conveniências ideológicas. E é exatamente isso que incomoda tanto os que querem transformar a política em um campo de guerra.

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